Romanistik
print


Navigationspfad


Inhaltsbereich

Resumo

A insularidade em revisão: ilhas e arquipélagos do mundo de língua portuguesa

Enquanto figura de pensamento, realidade geomorfológica e conspicuidade cartográfica, a ilha funciona como "figura oscilante" (Ette, 2004) entre o isolamento e a interconexão (Lima et al., 2011), entre a difícil acessibilidade e a fácil colonizabilidade, entre o lugar de repouso final e o ponto de partida, entre a colónia-prisão e o berço de revoltas, entre a reclusão terrestre e a integração marítima e atmosférica. Neste sentido, a secção proposta, "A insularidade em revisão", examinará criticamente as idiossincráticas criações literárias, cinematográficas, fotográficas e artísticas de espaços insulares e arquipelágicos, ou seja, as poéticas das ilhas (Graziadei et al., 2017) do respetivo texto ou produto artístico. A secção transversal inclui ainda contribuições sobre as variedades linguísticas insulares do português e das línguas crioulas de base portuguesa, que examinem o papel do isolamento geográfico no desenvolvimento da língua, bem como contribuições da antropologia cultural, que explorem a representação da insularidade na memória cultural.

Tanto o ícone exoticista da ilha tropical consumível (Sheller, 2008), como os imaginários da ilha isolada, supostamente solitária ou deserta (Beer, 2003), com os seus próprios tempos e contra-conceitos essencialistas em relação ao continente, enquanto aspetos de um discurso insular ocidental (Moser, 2005), devem ser alvo de revisão. No contexto de uma reparação, a visão deve ultrapassar a fixação terrestre, abrangendo a componente marítima constitutiva e as relações arquipelágicas-aquáticas globais implícitas (Glissant, 2009), a anti-dialética das marés (Brathwaite, 1983) e a ilha repetitiva do aprisionamento, banimento, rapto e escravização, com abertura para os oceanos e a circulação global do conhecimento (Benítez Rojo, 1989), numa simultaneidade pós-colonial de emancipação e exploração (Bongie, 1997), bem como ciclos repetitivos de sobre-exploração ecológica e tentativa de renaturalização (Grove, 1995).

Neste sentido, será também incluída a tensão entre "mundo-ilha" e "mundo insular" (Ette, 2011), ou seja, entre o potencial global e cósmico da metonímia do arquipélago e a pars pro toto da ilha. Enquanto intersecção de conceitos (Geck, 2005), esta revisão será abordada tanto através da abstração espácio-teórica como da análise textual de desenvolvimentos culturais, linguísticos e literários tradicionais e recentes, identificando e analisando casos concretos de relacionalidade insular (Carvalho Semedo, 2016), transitoriedade (Lima, 2019), crioulização e descolonização.

Serão privilegiados os territórios africanos, nomeadamente Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, bem como o arquipélago dos Bijagós, as ilhas da Guiné Equatorial (nomeadamente Ano-Bom), a Ilha de Moçambique. A Madeira e os Açores serão analisados como espaços coloniais e decoloniais de caráter particular.

A secção sobre a estética insular e arquipelágica das literaturas de língua portuguesa (principalmente africanas) visa deliberadamente promover e exigir a ligação dos entendimentos biogeográficos, linguísticos e culturais dos Estudos Insulares, bem como dos entendimentos espácio-teóricos das teorias literárias insulares, com as práticas filológicas dos estudos das literaturas de língua portuguesa decoloniais.

 

Prazo para envio de propostas: 30 de abril de 2025

As propostas devem ser enviadas para os e-mails de:

Daniel Graziadei (Albert-Ludwigs-Universität Freiburg) research@danielgraziadei.de

Doris Wieser (Universität Coimbra) dwieser.fluc@gmail.com



Bibliografia (seleção)

Baptista, Maria Luísa. Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopes. Porto: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2007.

Beer, Gillian: “Discourses of the Island.” Literature and science as modes of expression. Hg. Frederick Amrine. Dordrecht u. a: Kluwer, 1989. 1–27.

Beer, Gillian: “Island Bounds.” Islands in history and representation. Hg. Rod Edmond and Vanessa Smith. London: Routledge, 2003. 32–42.

Benítez Rojo, Antonio: La isla que se repite: El Caribe y la perspectiva posmoderna. Hanover, N.H.: Ediciones del Norte, 1989.

Brathwaite, Edward Kamau: “Caribbean Culture · Two Paradigms.” Missile and Capsule. Hg. Jürgen Martini. Bremen: Universität Bremen, 1983. 9–54.

Carvalho Semedo, Carla I.: “Musicalidades das cabo-verdianas nas roças de São Tomé e Príncipe.” Revista Estudos Feministas 24.3 (2016): 959–972.

Ette, Ottmar: “De islas, fronteras y vectores. Ensayo sobre el mundo insular fractal del Caribe.” Iberoromania IV.16 (2004): 129-143.

Ette, Ottmar: „Von Inseln, Grenzen und Vektoren. Versuch über die fraktale Inselwelt der Karibik“ Grenzen der Macht - Macht der Grenzen. Lateinamerika im globalen Kontext. Hg. Braig, Marianne; Ette, Ottmar; Ingenschay, Dieter; Maihold, Günther. Frankfurt am Main: Vervuert Verlag 2005. 135-180.

Ette, Ottmar: „Insulare ZwischenWelten der Literatur. Inseln, Archipele und Atolle aus transarealer Perspektive.“ Inseln und Archipele. Kulturelle Figuren des Insularen zwischen Isolation und Entgrenzung. Hg. Wilkens, Anna E.; Ramponi, Patrick; Wendt, Helge. Bielefeld: transcript 2011. 13-56.

Geck, Sabine „Quid est insula? El concepto de ISLA desde una perspectiva cognitivista.“ Forum 12 (2005): <http://usuaris.tinet.cat/asgc2/Forum_2005/Autors/Geck/geck4.html>.

Glissant, Édouard: Philosophie de la relation: Poésie en étendue. Paris: Gallimard, 2009.

Graziadei, Daniel, Britta Hartmann, Ian Kinane, Johannes Riquet & Barney Samson: “On sensing island spaces and the spatial practice of island-making: introducing island poetics, Part I.”, in: Island Studies Journal 12.2 (2017): 239-252.

Grove, Richard H.: Green imperialism: Colonial expansion, tropical island Edens and the origins of environmentalism, 1600 - 1860. Cambridge u. a: Cambridge University Press, 1995.

Laurel, Juan Tomás Ávila. “La isla de Annobón, el refugio de las musas”. Afro-Hispanic Review 28.2. Nashville: Vanderbilt University (2009): 331-334.

Leviski, Charlott Eloize. “A política da língua portuguesa em Guiné Equatorial”. Revista Working Papers em Linguística, UFSC, 16.2 (2015): 62-81.

Lima, Norma S. R. ‘Literatura cabo-verdiana em trânsito’. Revista Soletras 38 (2019): 338–361.

Lima, Norma S. R.; Caputo Gomes, Simone (Hg.) Revista Soletras 42 (2021): “Dossiê: Sentir-se/estar apartado, estabelecer elos: tendências insulares na literatura de Cabo Verde.”

Mata, Inocência. Polifonias insulares. Cultura e literatura de São Tomé e Príncipe. Lisboa: Edições Colibri, 2010.

Moser, Christian. „Archipele der Erinnerung: Die Insel als Topos der Kulturisation.“ Topographien der Literatur: Deutsche Literatur im transnationalen Kontext. Hg. Hartmut Böhme. Stuttgart u. a.: Metzler, 2005. 409–432.

Ribeiro, Margarida Calafate, Sílvio Renato Jorge (orgs.): Literaturas insulares: Leituras e escritas de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Porto: Edições Afrontamento, 2011.

Sheller, Mimi B. Consuming the Caribbean: From Arawaks to Zombies. London: Routledge, 2008.



Servicebereich